No ano passado, o agronegócio brasileiro expôs sua vulnerabilidade, após alguns anos de bonança, surpreendendo a todos, inclusive os “Faria Limers” que acreditavam que o Agro é Pop, como dizia a propaganda da rede globo que já não existe mais.
Pois bem, o aumento significativo dos pedidos de recuperação judicial no agronegócio chamou a atenção de muitos credores que viram os seus investimentos virarem pó. Eu me incluo neste grupo de investidores que acreditaram na promessa de crescimento, em especial, da maior empresa de distribuição de insumos agrícolas do Brasil.
É sabido que uma conjunção de fatores atuou de forma negativa como é apresentado na grande maioria dos pedidos de recuperação judicial.
- Estoques excedentes: as empresas adquiriram insumos durante períodos de altos preços das commodities, em um momento de incertezas geopolíticas.
- Excesso de oferta global: o aumento da produção de defensivos genéricos, no período pós-pandemia na China inundou o mercado, causando quedas acentuadas nos preços.
- Desafios climáticos: secas e más condições de colheita prejudicaram a produtividade das colheitas, reduzindo ainda mais as margens de lucro.
- Queda na lucratividade dos agricultores: a queda nos preços das commodities diminuiu o interesse dos produtores em investir na compra de insumos.
Esses fatores “externos” e, portanto, “não-controláveis” são bem conhecidos na agricultura e isso não deveria surpreender aqueles que estão no mercado há mais tempo e que já vivenciaram momentos semelhantes no passado. Como se sabe, a agricultura é uma indústria cíclica, onde os ganhos e perdas da atividade, são dependentes do clima (para aqueles que não irrigam) e dos preços das commodities, regida pela oferta e demanda global.
O que também surpreende é que estes pedidos de RJ ocorreram após 2 anos excepcionais na agricultura, onde a margem de lucro do agricultor e consequentemente da indústria como um todo, foi muito superior à média dos últimos anos. Poupar nos anos bons para se proteger dos anos ruins sempre foi uma regra de ouro na agricultura.
Uma análise detalhada de 8 dos 10 maiores pedidos de RJ em 2024 revela um tema que é pouco ou não divulgado, mas crítico: a ineficiência interna nas políticas de crédito e gestão de dívidas. Estas empresas, em especial, os distribuidores de insumos frequentemente concederam crédito a agricultores sob termos excessivamente lenientes sem uma verificação rigorosa, resultando em altas taxas de inadimplência. Apesar disso, os relatórios raramente enfatizam essas falhas, talvez para preservar a credibilidade com as partes interessadas financeiras. Atrasos na renegociação de dívidas e na implementação de medidas corretivas agravam o problema, corroendo a confiança entre os credores e aprofundando as crises de fluxo de caixa.
Necessidade de Gestão Profissional e Responsável
Os planos de recuperação judicial deveriam enfatizar a necessidade de investimento em melhores estruturas de avaliação de crédito e adotar estratégias proativas de gestão de dívidas.
Para que o Agro volte a ser Pop e ganhe a confiança da rede Globo, e principalmente do mercado financeiro, é fundamental que as empresas adotem uma gestão profissional e responsável. Nos anos de 2023 e 2024, muitas empresas do agronegócio não somente cresceram mas também lucraram mesmo diante do cenário de crise, como mostra a edição anual das 500 Maiores publicado pela Revista Globo Rural. Isso prova que a gestão responsável é fundamental para que uma empresa possa navegar bem seja na calmaria como nas tempestades.