O mercado de produtos biológicos para controle de pragas e doenças tem avançado significativamente no Brasil. Observamos uma expansão contínua da adoção pelos produtores, aumento no número de aplicações por ciclo e crescimento das doses médias aplicadas por hectare. Em tese, todos esses fatores deveriam estar impulsionando fortemente o valor do mercado.
Mas, na prática, o que temos visto é outra história.
Apesar do crescimento técnico e do entusiasmo em torno dos biológicos, boa parte do valor gerado por essa expansão tem sido corroída por quedas expressivas nos preços dos produtos. E isso tem se tornado um obstáculo crítico para a consolidação e sustentabilidade do setor.
Um olhar sobre os segmentos
Analisando alguns dos principais segmentos do biocontrole, o impacto da guerra de preços se torna evidente:
- Bionematicidas: cerca de 90% do crescimento potencial de valor foi destruído pela queda de preços, resultado direto do elevado número de players oferecendo produtos semelhantes, muitas vezes com propostas de valor pouco diferenciadas.
- Biofungicidas: a erosão de valor foi de aproximadamente 75%, também influenciada por um cenário competitivo acirrado e pela entrada de produtos com posicionamento técnico e comercial indefinido.
- Bioinseticidas: mesmo com maior valorização relativa, 40% do crescimento foi comprometido por pressões sobre o preço.
Por que isso importa?
Para que o setor de biológicos continue a evoluir deforma saudável, é essencial que o crescimento em volume se traduza também em crescimento de valor. Caso contrário, as margens se comprimem, os investimentos em P&D se tornam inviáveis e o mercado começa a se consolidar em torno de poucos players resilientes — com risco de perda de diversidade e inovação.
O que fazer?
A resposta passa por três movimentos fundamentais:
- Diferenciação técnica e comercial real — e não apenas no discurso.
- Modelos de precificação que reflitam o valor entregue, e não apenas o custo do produto.
- Educação do mercado e dos canais para que o foco deixe de ser apenas o preço por litro ou quilo, e passe a considerar eficácia, sustentabilidade e ROI.
O setor de biocontrole tem um enorme potencial. Mas, para que ele se concretize em valor — e não apenas em volume —, precisamos repensar a forma como estamos competindo.