Como construir uma ponte entre a academia e o agronegócio brasileiro?

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Os avanços da produtividade dos cultivos agrícolas no Brasil devem-se em grande parte as inovações em manejo de solo como o plantio direto, melhoramento genético, uso de fertilizantes, defensivos químicos e a adoção de biotecnologia (plantas geneticamente modificadas). No entanto, ao longo dos meus 25 anos de atuação no agronegócio, eu me deparei com diversos paradoxos entre a academia e a indústria. Enquanto as universidades geram pesquisas valiosas, muitas recomendações apenas levam em conta os fundamentos técnico-científicos, ignorando aspectos econômicos e operacionais fundamentais na agricultura comercial.

Para converter ciência em lucro, precisamos alinhar os ensinamentos acadêmicos com as restrições do mundo real. Abaixo eu listo 3 exemplos importantes de recomendações acadêmicas bem-intencionadas, mas utópicas, e maneiras práticas de transpor essa divisão.

Exemplos de recomendações acadêmicas que são utópicas na prática

1. Áreas de refúgio para culturas Bt: uma excelente idéia que os agricultores não praticam

Cientistas enfatizam a importância de áreas de refúgio em culturas Bt para diminuir a resistência a insetos. No entanto, exigir que 20% das terras agrícolas sejam plantadas com híbridos não Bt resulta em menores rendimentos e aumento de danos causados por pragas, tornando a conformidade economicamente penosa. Além disso, gerenciar compras separadas de sementes e logística de plantio é complexo, desencorajando a adoção. Sem incentivos financeiros ou regulamentações flexíveis, essa prática cientificamente válida continua impraticável para a maioria dos agricultores.

2. Culturas de cobertura: sustentáveis, mas frequentemente não rentáveis

A academia promove culturas de cobertura para a saúde do solo, mas sua adoção generalizada é frequentemente economicamente inviável. Altos custos de sementes e mão de obra, combinados com o custo de oportunidade de plantio comercial perdido, os tornam difíceis de justificar financeiramente. Além disso, as culturas de cobertura podem aumentar a pressão de pragas em algumas regiões, reduzindo seus benefícios. Embora úteis em casos específicos, sua recomendação única para todos ignora as realidades da agricultura comercial.

3. Substituição dos fertilizantes e defensivos tradicionais pelos produtos biológicos: uma transição arriscada

Alguns círculos acadêmicos defendem a redução ou eliminação total de fertilizantes e defensivos químicos em favor de alternativas biológicas. No entanto, tal mudança impactaria significativamente a produtividade, aumentando também os custos de produção e exigiria uma cadeia de suprimentos especializada que não existe em escala. Embora os insumos biológicos possam complementar os métodos convencionais, uma transição completa não é realista para o agronegócio extensivo.

Construindo a ponte entre a academia e o agronegócio

Para garantir que a pesquisa acadêmica se traduza em impacto no mundo real, precisamos de uma abordagem pragmática e orientada para os negócios:

  • Pesquisa orientada pela indústria: as universidades devem desenvolver soluções alinhadas às necessidades do mercado .
  • Ensaios de campo aplicados: os estudos devem incluir testes de viabilidade econômica na fazenda .
  • Mentalidade empreendedora na academia: os pesquisadores devem se concentrar em inovações escaláveis e passíveis de investimento .
  • Educação e treinamento executivo: programas como o MBA em Estratégia de Marketing e Vendas para Agronegócios (que coordeno) integram conhecimento empresarial e agronômico para preencher essa lacuna.

A ciência é vital para o futuro da agricultura, mas conhecimento sem viabilidade comercial tem pouco impacto. Ao promover colaboração, pesquisa aplicada e alinhamento econômico, podemos preencher a lacuna entre academia e indústria e transformar avanços científicos em soluções lucrativas e escaláveis para o agronegócio brasileiro.

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